ESSA, ATÉ LAMPIÃO DUVIDAVA!!!

Os gays do cangaço Com espingardas falsas, maquiagem e muita purpurina, o Cangagay enfrenta resistência na cidade natal de Lampião.
O REI DO SERTÃO O mais famoso cangaceiro do Nordeste, Lampião, nasceu em Serra Talhada e entrou para o bando em 1920 para vingar a morte do pai, abatido a tiros por um delegado. Dois anos depois, já tinha se tornado o líder do bando. Invadiu e saqueou cidades e matou várias pessoas, tornando-se o bandido mais procurado do Brasil. Em 1930 conheceu Maria Bonita, com quem viria a se casar. Lampião foi morto pela polícia em Sergipe, no dia 28 de julho de 1938.

No imaginário popular, cantado nos cordéis, os cangaceiros são a mais fiel tradução do "cabra macho, sim senhor". Mas um grupo de nordestinos resolveu subverter essa história, justamente na cidade natal do mais famoso deles, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. No sertão pernambucano, os 80 mil moradores de Serra Talhada conheceram, no mês passado, o grupo Cangagay - nome que resulta da junção das palavras cangaceiro e gay. São dez homossexuais que vestem as roupas de couro do cangaço, só que tingidas de rosa e ornamentadas com flores e detalhes em lilás, usam maquiagem e, claro, abusam de purpurina. Também andam armados - mas de espingardas falsas e cor-derosa. Eles estrearam na primeira Parada Gay da cidade, para "protestar contra a discriminação por opção sexual", como explica Elio do Nascimento, 35 anos, estilista e um dos criadores do grupo. "Não desejamos desrespeitar ninguém, muito menos Lampião. É apenas humor".

A intenção não foi entendida assim por alguns vereadores locais e um deles, José Pereira, do Partido dos Trabalhadores (PT), apresentou projeto tornando os trajes de cangaceiros um símbolo oficial de Serra Talhada (a 415 quilômetros da capital, Recife), que não pode ser tratado de forma "pejorativa", sob pena de prisão. "A população se sentiu desrespeitada", disse Pereira. "Nenhum dos participantes da parada conheceu Lampião para dizer se seus seguidores eram gays ou apoiariam essa situação."

O projeto vai a votação na segunda-feira 9, mas, independentemente do resultado, tudo indica que a celeuma irá continuar. A vereadora Penha Oliveira, do Partido da República (PR), discorda que o traje do grupo seja ofensivo. "O autor tem que esclarecer o que é pejorativo. Não vi nada de desrespeitoso no desfile gay", defende. Para o coordenador do Cangagay, a defesa de Lampião não passa de bode expiatório. "Vão acabar nos proibindo de usar a roupa porque essa polêmica é, na verdade, apenas um pretexto para manifestar o preconceito", acredita. O vereador Pereira assume que sua revolta não está voltada apenas para o Cangagay. "Se eu pudesse, proibia a Parada Gay. É viado beijando viado, um mau exemplo para as crianças", diz ele. A julgar pelo sucesso do grupo na Parada Gay, o sertão mudou muito mesmo: tudo indica que os moradores querem que o Cangagay volte a alegrar Serra Talhada.

*Fonte:http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2087/artigo155533-1.htm

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