GUTEMBERG COSTA - NOMES DO RN

Gutemberg Costa é natalense, jornalista, folclorista, carnavalesco, funcionário público, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, da Academia Mossoroense de Letras e da Comissão Paulista de Folclore, do Instituto Memória do Canindé e do Instituto José Marrocos de Estudos Sócio-Culturais do Ceará. Gutemberg, além de inúmeros artigos publicados em revistas e jornais, já publicou “Gota de sangue num mar de lama” (1992), “Profetas do Nordeste” (1994), “Zumbi 300 anos depois” (1995), “O cangaceiro Antônio Silvino e sua presença no Rio Grande do Norte” (1996), “A presença de Lampião na literatura de cordel” (1997), “Padre João Maria – o santo de Natal na literatura de cordel” (1999), entre outros títulos. Sendo um dos fundadores da troça carnavalesca “Antigos Carnavais”, no seu sétimo ano abrindo o carnaval natalense, Gutemberg Costa é um carnavalesco que busca resgatar o carnaval de Natal, tentando trazer para as ruas os papangus, palhaços, odaliscas, bailarinas e todos os tipos de fantasias que dão brilho a qualquer carnaval.
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Por Alexandro Gurgel O que representa o carnaval? Carnaval representa o povo na rua. Eu não vejo outra maneira de conceber carnaval. Carnaval não é onde o povo tenha que pagar para comprar esse tal de abada e ser obrigado a pular numa corda excludente. Carnaval é na rua porque carnaval é do povo. O povo quer brincar e os Poderes Públicos têm que criar a devida estrutura porque o povo gosta de brincar. Se encontrar uma estrutura mínima com iluminação, decoração e segurança, o povo sai de casa para brincar o carnaval. Como surgiu a idéia de resgatar o carnaval de rua natalense com a troça Antigos Carnavais? A idéia surgiu em 2002 quando eu vi que nós não tínhamos outra opção a não ser o carnaval com trios elétricos, o carnaval baiano que se infiltrou em Natal nos anos 80 e mudou até o ritmo na forma cultural das vidas das pessoas. As crianças não sabiam mais o que era um carnaval autêntico de rua. Elas não conheciam o que era um papangu ou um fantasiado. Elas estavam acostumadas a brincar o carnaval com fantasias pré estabelecidas e padronizadas, brincando numa corda e pagando rios de dinheiro. As bandas que animam esse carnaval ganham mais dinheiro ainda. Há até cantores baianos que recebeu títulos de “cidadãos natalenses”, o que é uma vergonha para os músicos da terra. Na banda Antigos Carnavais, há uma banda com 50 músicos e a cada ano, estamos aumentando essa banda porque o som já é pouco para a multidão que nos acompanha. Na nossa banda, o folião bebe de graça, tem segurança e concorre a prêmios se vier fantasiado. Esse carnaval sadia a gente gostaria que tivesse em cada recanto do Brasil. Como você avalia o carnaval de Natal no atual formato? O carnaval de Natal está melhorando. Ele está retomando as bandas nas ruas com os Antigos Carnavais, Banda Independente da Ribeira, entre outros. Nós somos uma irmandade que torcemos pela revitalização do carnaval de rua natalense e reviver os anos 60 e 70 quando Natal tinha o melhor carnaval do Brasil. Infelizmente, nos anos 80, com a influência baiana e do trio elétrico, o carnaval em Natal quase acabou. Como folclorista e historiador, como você avalia o atual momento do carnaval natalense? De 2002 para cá, o carnaval vem crescendo de qualidade com as bandas nas ruas. Quando os órgãos públicos e as autoridades viram que o músico na rua chama o folião para brincar com a família. Enquanto isso, o trio elétrico chama a violência através de brigas, drogas, roubos, etc. Coisa que a gente não vê no carnaval de pé no chão. Com essa segurança e a certeza de diversão sadia, o folião natalense deixa de viajar para ficar na cidade e curtir o carnaval por aqui mesmo. Essa mudança de comportamento faz muito bem ao carnaval de Natal. Afinal, qual a diferença do frevo para o axé no carnaval de Natal? Por incrível que pareça, o frevo não traz violência. Não sei o porquê, mas o som baiano é muito perigoso. Ele vem sempre com violência. Agora, o frevo é fraterno e parece que é uma coisa abençoada por Deus. Quem brinca, sente que é uma brincadeira sadia aglutinando gente de 8 a 80 anos. E isso era bom que voltasse a tradição de bandas de frevo nas ruas das cidades do Nordeste. Essa rejeição aos trios elétricos é decorrente do Carnatal? Eu não gosto de falar esse nome porque não conheço essa festa e nunca pisei meus pés nesse evento. Portanto, eu não posso falar daquilo que não conheço. Mas, eu digo que eu conheço carnaval. Nosso carnaval é parecido com o de Olinda onde o povo brinca democraticamente, sem cordas excludentes. Qual a participação do Governo do Estado e a Prefeitura de Natal no apoio aos Antigos Carnavais? A Prefeitura nos fornece uma parte do apoio, pagando os músicos. E só. Nós trabalhamos mais de três meses para criar uma estrutura para a realização dos Antigos Carnavais. Temos que organizar desde a segurança, passando pela decoração e a confecção das camisetas até o pessoal de apoio que fornece água para quem está nos bastidores. Enfim, nós temos uma estrutura com mais de 150 pessoas e é preciso gratificar essas pessoas que estão trabalhando. No final das contas, essa brincadeira fica em torno de R$ 30 mil. Arrecadar esse montante não é fácil. Os coordenadores tiram dinheiro até do bolso. Mas, eu digo que é muito prazeroso. Particularmente, a maior emoção do mundo é quando eu vejo um folião alegre e sorrindo, brincando e ao lado de sua família. Eu me sinto satisfeito e realizado. A banda Antigos Carnavais está inserida na Lei Cascudo (estadual) ou Djalma Maranhão (municipal) de incentivo à cultura? A banda não está inserida em nem uma das duas leis. Eu sempre digo que a troça Antigos Carnavais está na “lei do povo” porque é um patrimônio do povo. Por outro lado, o que impede é a burocracia na própria lei e também o incentivo de um empresário antenado com nossa cultura. No início, nós até entramos na Lei Cascudo, mas não conseguimos nenhum apoio. Então, a questão não é entrar nas Leis somente por figurar. A questão é ter o apoio de uma empresa para que a gente possa ter condições de entrar na Lei e ser beneficiada por ela. Você sente que há uma vontade que parte do povo para resgatar esse carnaval de antigamente? Há uma vontade grande. O povo sempre pergunta quando é o dia da banda dos Antigos Carnavais e a cada ano, arrastamos mais foliões. Não há dúvidas que o natalense quer brincar seu carnaval na cidade, com segurança e animação. É preciso que os governantes se sensibilizem e criem condição para que o carnaval de rua de Natal resgate esse espírito de antigamente. Natal tem uma tradição carnavalesca? Tem sim. Inclusive, esse ano, eu estou lançando um livro sobre a história do carnaval de Natal. Desde 1873 que nós temos carnaval. Isso é desde a época do entrudo (Folguedo carnavalesco antigo, que consistia em lançar uns aos outros água, farinha, tinta, etc). Agora, nossa grande influência vem de Pernambuco com o frevo. O carnaval de rua só decaiou com a chegada dos trios elétricos baianos. Qual a perspectiva para o carnaval de Natal 2008? Espero que seja tão bom como aconteceu nos últimos anos. A Prefeitura colocando iluminação, decoração, segurança e uma banda de frevo na rua já está muito bom. A Prefeitura só falha em não colocar uma decoração a altura nas ruas. O folião quando sai de casa quer encontrar um ambiente propício para sua brincadeira. O povo ainda prestigia o carnaval da Ribeira com escolas de samba e tribos de índios? O desfile oficial do carnaval sempre houve desde os corsos (desfile de carros alegóricos) na Tavares de Lira com as primeiras agremiações. Esse carnaval representa os primeiros registros históricos das primeiras associações carnavalescas. Do ponto de vista folclórico, não se pode acabar com essa tradição. Agora, o que falta é um pouco de criatividade dos seus dirigentes para colocar coisas inovadora na rua para que não fique a cópia ruim do Rio de Janeiro. Papangus, piratas, palhaços, odaliscas, bailarinhas e outras fantasias regem o carnaval? Não. No carnaval de rua a gente vê poucas fantasias. Todo ano, nós solicitamos que as pessoas venham fantasiadas. Mas, infelizmente as pessoas ainda estão tímidas. Acho que elas ainda não estão entendendo a proposta dos Antigos Carnavais que é vir fantasiados. A maioria ainda prefere a nossa camiseta, que não é vendida. Cascudo gostava de carnaval e era um folião? Cascudo brincou carnaval quando era jovem. Nós temos registro da presença dele em algumas agremiações. Ele mesmo disse, em vários depoimentos, que depois de certa idade recolheu-se a sua casa. Nós temos confirmado a presença de Cascudo num baile no Teatro Carlos Gomes, hoje Teatro Alberto Maranhão. Mas, Cascudo não era aquele folião de brincar os quatro dias de carnaval. Agora, para brincar e vestir fantasias era coisa de Newton Navarro que vivia intensamente o carnaval. Atualmente, os artistas, poetas, boêmios e os intelectuais estão aderindo ao carnaval de Natal? Em parte sim. Nós estamos vendo a grande presença de jornalistas, escritores, poetas, advogados, médicos, etc. Esse ano, nosso homenageado é o artista plástico Pedro Grilo e nossa madrinha é a carnavalesca Nira Barbosa. Enfim, os intelectuais estão voltando a brincar o carnaval de rua em Natal, sentido alegremente que é possível fazer um carnaval a moda antiga com frevo e com aquele sentimento fraterno Aonde você vai brincar o carnaval? Eu vou para a Redinha porque lá tem carnaval de rua durante os quatro dias de folia. E também porque aonde tem som de carnaval, eu estarei lá.
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Entrevista publicada no jornal O Mossoroense

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