Além da manjedoura

Publicação: 08 de Novembro de 2011 às 00:00
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Yuno Silva - repórter O enredo de um Auto natalino, de modo geral, transita em torno de Maria e José - tendo como ápice o nascimento de Jesus e como pano de fundo a narrativa religiosa do ponto de vista católico cristão. Na prática, trata-se de um recorte histórico que procura traduzir dos evangelhos o encontro entre os dois personagens, a concepção divina e a peregrinação em busca de um abrigo seguro para o parto. Apesar das várias formas de abordagem, onde a liberdade artística e a premissa do Brasil ser um estado laico conferiram um perfil ecumênico à encenação, o foco sempre se "manteve" na órbita dos protagonistas - mas, este ano, o auto não segue o curso natural.
Marcelo BarrosoTexto do Auto do Natal ganha tom mais religioso na figura de Jesus Cristo. Com direção de Diana Fontes, evento acontece de 21 a 25 de dezembro, no largo Dom Bosco.Texto do Auto do Natal ganha tom mais religioso na figura de Jesus Cristo. Com direção de Diana Fontes, evento acontece de 21 a 25 de dezembro, no largo Dom Bosco.
O verbo "manter", conjugado no passado, passa a fazer sentido com a nova roupagem dada à dramaturgia, onde a figura de Jesus Cristo e as referências de que a montagem retrata o nascimento do "Salvador" terá maior ênfase dentro do roteiro, ou seja, Maria mãe de Jesus perderá espaço para o próprio filho que ainda estará por nascer. Com direção de Diana Fontes, que pela segunda vez seguida assume as rédeas da produção, e texto de Edson Soares, que este ano servirá pela terceira vez consecutiva como base da dramaturgia, a 14ª edição do Auto reflete nítida interferência religiosa sobre o espetáculo a ser encenado dias 21, 22, 23 e 25 de dezembro no largo Dom Bosco, Ribeira. "Faremos alguns ajustes no texto, mas a essência da história permanecerá a mesma", garantiu Edson Soares. A inserção mais ostensiva de Jesus Cristo no enredo servirá "para agradar gregos e troianos", disse o autor do texto, que foi buscar informações tanto nos evangelhos oficiais como nos oficiosos (apócrifos). "Houve uma fusão entre a tradição religiosa e as tradições oral, folclórica e popular sobre a natividade. Durante a conversa com a reportagem do VIVER, Soares afirmou que, ao contrário do foi especulado, não houve publicação no Diário Oficial do Município atrelando a direção de Diana Fontes e seu texto à montagem do Auto: "Isso é absurdo, nunca existiu. Inclusive eu incentivo essa alternância de autores". Segundo Edson Soares, o que houve foi o seguinte: "No primeiro ano chegaram a ensaiar a abertura de um edital público no intuito de receber propostas para o texto do Auto. Não deu certo por uma série de questões, também faltou tempo hábil para articular outra opção, e meu texto acabou sendo encenado. No ano seguinte (2010), com a mudança na direção da Capitania das Artes, mais uma vez o edital não foi posto em prática. E este ano, Diana Fontes sinalizou que gostaria de repetir a montagem para colocar em prática alguns detalhes que não funcionaram na edição passada", esclareceu Soares. Consultada, a diretora Diana Fontes confirmou à TN o convite recebido da prefeita Micarla de Sousa para reencenar o Auto. "De fato será o mesmo texto, mas teremos algumas adaptações, até por que o espetáculo será apresentado em um local bem menor", disse Fontes, adiantando que duas novas partes serão incorporadas "no início e no fim da montagem". Ela informou que o palco montado no Estádio Machadão em 2010 tinha 44 metros quadrados, e que este ano, na Ribeira, serão apenas 24. Um dos fatores que incentivaram Diana a aceitar a missão de redimensionar o Auto de Natal foi o resultado de uma pesquisa de opinião que apontou "aprovação do público", lembrou a diretora, para quem a mudança na abordagem "é uma maneira de contemplar a diversidade religiosa". Figurinos serão reaproveitados em novas peças Faltando pouco mais de um mês para a encenação do Auto de Natal, a equipe de produção começa se movimentar para fechar elenco e agendar ensaios. Mas o trabalho das costureiras, que deverão reaproveitar o figurino utilizado em 2010, será intensificado a partir desta semana. De hoje para amanhã, todo o material que chegou a ser dado como desaparecido na semana passada, será transferido para a oficina montada no Teatro Sandoval Wanderley, Alecrim. "O figurino sempre esteve na Funcarte", afirmou João Maria de Souza, chefe do setor de Patrimônio e Serviços da Capitania das Artes. "Quando chegamos, em março deste ano, estava tudo sujo e espalhado. Mandamos lavar e guardamos no depósito. Inclusive, temos material de 2009", informou ele à reportagem da TN. Segundo João, a polêmica do sumiço foi gerada por pura falta de comunicação interna: quando as costureiras vieram procuram o figurino, não tiveram notícia nem ninguém da instituição soube informar de quem era a responsabilidade. O que as costureiras encontraram, no local indicado onde estaria o figurino, foi um amontoado de sacos com papel picado que havia sido utilizado na montagem de uma exposição de papel machê. "Em nenhum momento vieram me procurar", retrucou João Maria. Com o "mistério" dos figurinos esclarecido, o chefe do setor de Patrimônio foi questionado sobre o material audiovisual encostado há mais de um ano em um dos depósitos da Funcarte - são dois no prédio. "Faltava acertar pagamento e chegar dois equipamentos (projetores). Ainda em novembro queremos colocar a ilha de edição, as câmeras e o equipamento de áudio para funcionar", garantiu Souza, informando que o débito de R$ 108 mil referente a aquisição do equipamento foi parcelado. O chefe do setor de Artes Integradas da Funcarte, Marcos Sá, adiantou que "logo estará recebendo propostas para utilização desses equipamentos".

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