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O adeus ao guardião da memória

Publicação: 07 de Janeiro de 2012 às 00:00
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Yuno Silva e Tádzio França - repórteres

A clássica "Royal Cinema", composição do potiguar Tonheca Dantas, anunciou aos amigos e familiares que era chegada a hora do derradeiro adeus a Enélio Lima Petrovich, nome que entra para a história como o mais longevo dos gestores à frente de uma instituição pública no Estado. Lembrado por sua dedicação à preservação de documentos e registros históricos que guardam a memória social, cultural e política do RN, Petrovich fez questão de deixar escrito de próprio punho seu último pedido na contra-capa de um CD: "Para meu velório no salão nobre do IHG/RN. E quando? Só Deus sabe..."
Alex RégisMorre o advogado e escritor Enélio Lima Petrovich. Ele esteve à frente, por quase cinco décadas, da mais antiga entidade do Estado, o Instituto Histórico e geográficoMorre o advogado e escritor Enélio Lima Petrovich. Ele esteve à frente, por quase cinco décadas, da mais antiga entidade do Estado, o Instituto Histórico e geográfico

Enélio tinha 77 anos, três filhos, sete netos, deixou viúva dona Miriam Petrovich e em setembro foi acometido por um AVC que o deixou fora do combate nas trincheiras da Cultura potiguar. Falecido na manhã de ontem, foi velado no salão nobre do lugar que mais amava estar: o Instituto Histórico e Geográfico do RN, entidade fundada em 1902 da qual esteve à frente por 49 anos completos - ou uma vida inteira de dedicação, que por sinal foi a palavra mais repetida na tarde de ontem: dedicação. Essa é a principal imagem que fica sobre seu trabalho. O enterro aconteceu ontem mesmo, no fim da tarde da própria sexta-feira, no Cemitério Morada da Paz.

Figura querida, transitava por vários círculos e seu velório recebeu a presença de acadêmicos, intelectuais, artistas, personalidades da política e da sociedade. Durante o período que esteve internado no hospital, cerca de três meses, o IHG/RN chegou a ser brevemente comandado pelo filho Célio Petrovich - que logo passou o bastão para o vice-presidente Jurandir Navarro após polêmica deflagrada no meio intelecto-cultural. "Estava aqui por um chamado dele, nunca confundi as coisas", disse. Navarro permanece no gargo até o mês de março de 2013, quando haverá nova eleição.

"Acredito que a recuperação do acervo será o principal desafio da próxima diretoria", disse o escritor e pesquisador Cláudio Galvão, que declarou ser, "provavelmente", o amigo mais antigo presente no velório. Galvão, que conheceu Enélio há mais de 60 anos quando ainda eram adolescentes e moravam na rua Vigário Bartolomeu, sabe o que diz, pois contabiliza horas e horas de pesquisa nos arquivos do Instituto. "Muita coisa se perdeu pela deterioração natural, mas não podemos descartar o manuseio inadequado. Teve gente, inclusive, que chegou a rasgar alguns jornais antigos, material raro do século 19. Mas sei e tenho certeza que Enélio fez o que pôde dentro das limitações impostas ao longo do tempo."

Em 1988, Enélio chegou a ser empossado "presidente perpétuo"

Foram quase cinco décadas dedicadas a cuidar da mais antiga entidade cultural do Estado. Enélio Lima Petrovich foi eleito presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte em 25 de agosto de 1963, e desde então se manteve à frente da instituição, passando por várias eleições, até ser empossado "presidente perpétuo" em 1988, por decisão de uma assembleia geral. Câmara Cascudo sempre ressaltou os méritos do amigo e contemporâneo em sua longevidade administrativa: "...prorrogado o seu mandato, pois nele reconhecia grande força valorizadora em defesa do patrimônio intelectual do nosso Estado". E assim foi.
Enélio teve uma vida cultural bastante movimentada. Advogado por formação, estendeu seus interesses para muito além do Direito. Interessado desde cedo em estudos literários e históricos, escreveu livros e muitos artigos para jornais, revistas e publicações da área jurídica em geral. Foi colaborador das revistas Inter-Brasil, do Rio de Janeiro, e da potiguar Cactus. Há escritos seus no campo do Direito Previdenciário na "Revista de Previdência Social", em São Paulo. Durante a vida universitária teve participação em todos os movimentos culturais, pronunciando conferências e palestras.

O filho: 'Ele datava artigos com nome de santo"

Célio Petrovich, 48, filho do meio de Enélio e irmão de Lírian e Enélio Antônio, contou que o pai estava há cerca de 100 dias internado devido um acidente vascular cerebral isquêmico, o tipo mais comum de AVC. Visivelmente abalado, ele lembrou que Enélio chegou a ser liberado pelos médicos, "mas 5 ou 6 dias depois foi novamente internado, e infelizmente não saiu mais do hospital".

"Vejo meu pai como um baluarte da Cultura potiguar. Certo que ninguém é insubstituível, e podem até chegar a ser igual a ele - melhor não! Estou sem palavras e ainda não estou acreditando no que aconteceu", disse emocionado. "Muitas vezes tirou dinheiro do próprio bolso para pagar contas aqui do IHG/RN, dedicou sua vida a esta instituição, dividiu atenções com a família e quando assumiu o Instituto, mamãe estava grávida de mim." Um detalhe peculiar ressaltado por Célio: Enélio Petrovich assinava e datava seus artigos colocando o nome do Santo do dia - "Acredito que o Dia de Santos Reis veio para iluminar esse momento."

Autor de 35 livros, há uma obra inédita de Enélio Petrovich editada, revisada e pronta para ser publicada: "Escrevendo, Lendo e Publicando" estava programado para sair em março próximo e traz depoimentos, artigos, transcrições de palestras e textos que escreveu apresentando outros livros. "Agora não sei mais quando será lançado, nem se será lançado", revela Célio.
ENÉLIO LIMA PETROVICH
Ao meu Presidente, meu mestre, meu amigo.
SILÊNCIO E PAZ
Lúcia Helena Pereira
Foi levando para o País da Vida.
Para que fazer perguntas?
Sua morada, agora, é na luz,
Suas vestes são o brilho das estrelas ornando o infinito,
Seus passos leves, diáfanos percorrem os jardins celestes
E sua voz ecoa, como a sinfonia de pássaros siderais.
Deus, Senhor Da Vida e da Morte,
De repente tiraste-o do seio familiar.
E essa família, com humildade,
Simplesmente baixou a cabeça e disse:
Assim seja!
Por isso, peço a Deus
Silêncio e Paz,
Para Enélio Petrovich.
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O Velório do meu querido e inesquecível Enélio Petrovich, cercado dos seus familiares, dos amigos, dos escritores em geral, de representantes de entidades diversas, do Judiciário, do Executivo e do Legislativo. Presença do presidente em exercício (IHG/RN), dr. Jurandyr Navarro,da Governadora do Estado - Dra Rosalba Ciarline, da ex-Governadora Profª Vilma Maria de Faria, da Secretária Extraordinária de Cultura - Isaura Rosado Maia, do Procurador Corregedor Geral do Estado - Adalberto Targino, do Presidente do TCE - Valério Mesquita - , do presidente da ALEJURN - Odúlio Botelho, da Academia Macaibense de Letras representada por Carlos Roberto de Miranda Gomes, da ACLA, Da ALTO, da AFL/RN por Lúcia Helena Pereira, da Presidente Regional da AJEB - Leda Varela -, da ADESG - por Zélia Madruga, do Memorial Câmara Cascudo por Daliana Cascudo, do Ludovicus - por Anna Maria Cascudo Barreto, do presidente do SETURN - Augusto Maranhão -, do Coordenador da Comissão de Folclore do RN - Severino Vicente -, e de tantas outras representações de Natal e do RN.
A celebração da Missa pelo padre José Mário, foi muito bem conduzida e o padre revelou uma frase linda, lapidar, que ficará, para sempre, em nossa memória:
"...não é apenas Miriam que fica viúva, mas, o Instituto Histórico e Geográfico do RN, afinal, Enélio também era casado com esta casa de Memória e Cultura".
A família de Enélio Lima Petrovich agradece, por intermédico deste blog, as manifestações de carinho, inclusive, dos amigos jornalistas em seus sites e aos blogueiros que manifestaram carinho e solidariedade:
Hilneth Correia, Toinho Silveira, Liege Barbalho, Rodrigo Loureiro, JoaquimTur e os demais que fazem a notícia.
Obrigada a todos, pela família de Enélio Petrovich

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