Teatro em tom espiritual
Adriana Amorim // adrianaamorim.rn@diariosassociados.com.br
A sétima edição da Mostra Brasileira de Teatro Transcendental foi encerrada ontem, em Fortaleza, e mais uma vez as expectativas foram alcançadas. Cerca de 18 toneladas de alimentos foram doados em troca de ingressos, fortalecendo o intercâmbio e integração a oito grupos teatrais de diversos estados brasileiros, além da emissão de mensagens que provoquem um questionamento recluso no ser humano em detrimento de amenidades que permeiam a sua rotina. Os espetáculos se apresentaram no Theatro José de Alencar e em 13 municípios do Ceará, reunindo pessoas de diversas filosofias, classes sociais e religiões, apesar do caráter espírita que defende a transcendência como uma experiência além da própria consciência e existência.
Este ano, tendo como eixo a temática 'ética', alguns espetáculos levaram a plateia às lágrimas, a exemplo da mineira '2 de novembro', dirigida por Kalluh Araújo. Com a presença de apenas dois personagens em cena, a peça narra o drama de uma mulher de meia-idade, solitária, viúva e sem perspectivas que recebe a visita espiritual do filho único, falecido 10 anos antes. O encontro é, na verdade, um confessionário e procura entender o porquê dos conflitos e das diferenças entre os dois. Com o uso de elementos como projeção de imagens em 16mm e cenário adaptado para a mudança de ambientes, o ápice da peça é, na verdade, a história real dos atores.
Enquanto Heloísa Duarte teve o filho assassinado quando saía de uma comemoração durante a apresentação de um dos seus espetáculos, Olavo de Castro, que encena o papel do filho, perdeu o pai meses antes da estreia. A separação de filho e mãe no mundo real parece dar à intérprete o tom exato para construir a separação de filho e mãe no mundo ficcional. O mesmo acontece com o filho que perde o pai na vida real e coloca em cena o sofrimento da perda de um ente tão próximo.
Outro destaque vai para o espetáculo paulista 'Estranha loucura', dirigido por Mauro Júnior. Com uma iluminação primorosa, focalizandoambientes reais e de coexistência, a peça apresenta momentos de suavidade e fúria na interpretação dos personagens, especialmente o da protagonista Lorena Martinez, encenada pela atriz Eneida Nalini, cujo corpo fora invadido pelo espírito suicida da nora, apresentando momentos de suavidade e fúria, cuja solução foi encontrada no espiritismo. Fugindo desse contexto, o espetáculo mambembe baiano 'Quem tem medo da morte?' provocou questionamentos acerca dos ditos da igreja acerca de uma "vida melhor" após a morte.
Ações paralelas também foram realizadas durante a Mostra de Teatro, entre palestras, feira solidária, concurso cultural de desenhos entre alunos de escolas públicas e lançamentos audiovisuais. Para o empresário Luís Eduardo Girão, fundador e diretor da Associação Estação da Luz, promotora do evento, a ideia é levar a Mostra a outras capitais brasileiras ao disseminar a temática do teatro transcendental. Enquanto isso não acontece, a entidade encontrou no audiovisual uma possibilidade a mais de promoçãode mensagens positivas que levem à reflexão.
A população chegou a um momento de saturação e a arte está aí como um manancial de conforto", destacou, durante solenidade na ONG Oboé para assinatura de um contrato entre a organização e a produtora Globo Filmes e distribuidora Downtown Filmes para a co-produção do longa-metragem 'Chico Xavier', dirigido pelo cineasta Daniel Filho. Também foram anunciadas as produções dos projetos dos longas 'Área Q' e 'As Mães de Chico', ambos assinados pela Estação da Luz.
Ano passado, 'Bezerra de Menezes - o diário de um espírito', produzido pela Estação da Luz Filmes atraiu 500 mil espectadores ao cinema. "São filmes que levam mensagens de amor, paz, esperança e transcendem à questão da religião, da espiritualidade", avaliou Girão.
Teatro para afásicos
O Acidente Vascular Cerebral (AVC), quando não mata, deixa seqüelas profundas que fogem ao controle dos parentes mais próximos. Pessoas com esse problema fazem parte de um grupo denominado de 'afásicos', ou seja, vítimas de lesão cerebral, traumatismo craniano, tumor, Na tentativa de reabilitá-los, a organização não-governamental 'Ser em Cena', de São Paulo, tem feito um trabalho social com cerca de 60 afásicos desde 2002 através do teatro. Uma mostra do trabalho foi apresentada em formato de esquetes antes dos espetáculos do dia durante a 7ª Mostra Brasileira de Teatro Transcendental.
Saliba Filho, diretor artístico e executivo da entidade, a ação é importante por discutir e difundir para que as pessoas entendam que o ritmo de um afásico é diferenciado. "Ele precisa de reabilitação e independência. A maior alegria é quando ele consegue se comunicar com o mundo", destacou. Para saber mais, acesse www.seremcena.org.br. (A repórter viajou a convite da Mostra)
Foto: Laudemir Nogueira/Divulgacao
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