VIAGENS ASSOMBRADAS???
Quem visitou muitos lugares e já viu de tudo dificilmente consegue se surpreender numa viagem. Para atender a esse público ávido por novidades e cansado do óbvio, o chamado turismo de experiência substitui os roteiros previsíveis pela possibilidade de experimentar novas sensações. As pessoas que embarcam nos passeios de terror, por exemplo, nem sempre acreditam em espíritos ou em lendas macabras.
"Os fantasmas estão no cérebro" Richard Weiseman, psicólogo britânico que estudou as características dos lugares mal-assombrados
O que querem é sentir um calafrio, ver um vulto na escuridão dos castelos, ouvir um ranger de portas num casarão e, quem sabe, até tomar um susto de verdade. De olho no filão das assombrações, empresas do setor investem no contato com o sobrenatural. Interessados em embarcar nessa aventura não faltam. É o caso do empresário Roberto Nedelciu, 49 anos, que visitou todos os castelos de terror na Europa e as cidades macabras dos Estados Unidos. "Já fiz viagens por todo o mundo e sempre me interessei pelos roteiros mal-assombrados", conta. "É um estímulo para nos integrarmos à cultura e aos mitos da comunidade local." Uma das experiências mais curiosas foi o passeio ao Castelo Hampton Court, na Inglaterra, quando mergulhou na história de Henrique VIII, que matou a mulher, Catherine Howard, por adultério. Acredita-se que o espírito da quinta esposa do rei ronde as dependências do palácio. "Histórias de fantasmas nos fazem sentir mais vivos", diz Nedelciu.
Nos Estados Unidos, as cidades de Nova Orleans e Salem estão entre os destinos mais procurados para quem quer se arrepiar, com inúmeros roteiros que prometem experiências paranormais. Mas é na Europa que jaz o terror com requintes. No roteiro 'Castelos Mal Assombrados', da Raidho Turismo, o visitante pode ir ao famoso Castelo de Drácula, na Romênia, às catedrais góticas e aos palácios sombrios dos antigos reis da região. No Castelo de Glamis, na Escócia, há relatos da aparição no final do dia da imagem de uma bela jovem ajoelhada, rezando. No Palácio Linlithgow, a expectativa dos visitantes é ver os olhos de um homem dentro de uma armadura medieval que os observa fixamente até desaparecer. O passeio continua pelos castelos de Chillingham, Tulloch e Comlongon, com vultos e ruídos inexplicáveis.
O Brasil também tem seu pacote de calafrios. Em São Paulo, teatros, casarões e túmulos de famílias tradicionais são palco dos roteiros "São Paulo Além dos Túmulos", "Bruxas Soltas em São Paulo" e "Mistérios da Lua Cheia", da operadora de turismo Graffit. Os turistas procuram vultos em cemitérios e casarões abandonados e ouvem histórias das luzes que se apagam sozinhas no Teatro Municipal. Na cidade de Joanópolis, interior do Estado, há inúmeros relatos da presença de lobisomens.
No Recife, igrejas, ruas e rios também são repletos de histórias relatadas nos livros "Assombrações do Recife Velho", de Gilberto Freyre, e "Histórias Medonhas do Recife Assombrado", de Roberto Beltrão. A Secretaria de Turismo da cidade inclui o roteiro nas dicas de visitação.Mas, afinal, o que há nestes lugares: espíritos ou experiências sensoriais? Para o pesquisador Richard Weiseman, da Universidade de Hertfordshire, o fantasma está no cérebro. Ele investigou frequências magnéticas e de infrassom (sons que o ouvido humano não capta) no Palácio Hampton, na Inglaterra, e nos Vales de Edimburgo, na Escócia, considerados os lugares mais mal-assombrados do Reino Unido. E não descarta a influência do sugestionamento do visitante. A ansiedade e a expectativa do medo podem causar alucinações auditivas, visuais e sensoriais. "Os fantasmas estão mais ligados às atividades neurológicas do que às espirituais", afirma Weiseman em sua pesquisa. Ilusão ou paranormalidade, o fato é que a procura por esses roteiros só cresce, embalada pelos viajantes fascinados por mistérios.
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** Fonte:www.istoe.revista.com.br
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