A carência como regra do jogo(ÚLTIMA PARTE)
Os funcionários da Escola Estadual Raimundo Soares, em Cidade da Esperança, fazem o que é possível para garantir um mínimo de ensino digno aos 870 alunos matriculados nos três turnos. O índice de reprovação, de 29,8%, mostra que essa é uma tarefa hercúlea. Há grande evasão dos alunos do turno noturno, especialmente quando eles mudam de emprego ou de bairro. A escola também sofre com a violência e a falta de infraestrutura adequada.
O lixo e o mato tomam conta da área onde fica a quadra de esportes, as salas são decoradas com motivos juninos apenas com material reciclável, o laboratório de ciências têm equipamentos ultrapassados e o laboratório de informática, que tem 10 computadores, conta com apenas dois funcionando. "Apesar disso, os educadores são comprometidos. Fazemos muitos sacrifícios, mas todos querem uma educação de qualidade", declarou a diretora da escola, Maria Divanilza de Medeiros.
Na última reunião de pais da escola, foram convidados 140 representantes familiares. Apenas 40 compareceram. "Infelizmente as famílias são ausentes, não acompanham a vida escolar dos filhos. As tarefas que encaminhamos para casa normalmente voltam sem ser realizadas", relata a coordenadora pedagógica, Regina Célia do Nascimento.
A Raimundo Soares sobrevive com o pouco recurso que vem dos governos Estadual e Federal. Trimestralmente é destinada uma verba de R$ 2.287,50, do Programa de Autogerenciamento de Unidade Executora (Pague), destinado a despesas como gás, limpeza e reparos necessários, além do dinheiro que advém dos projetos encaminhados pela escola ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDDE). "No último que aprovamos, a escola recebeu R$ 34 mil, destinado a custeio (material didático) e capital (maquinário, computadores, armários)", disse Nazaré Negreiros, coordenadora financeira.
Do dinheiro que veio do PDDE, a escola conseguiu promover um curso de capacitação para os professores. Pouco se pode fazer, no entanto, no que se refere a itens essenciais para elevar os percentuais de aprovação. Contratar professores, por exemplo, é uma atribuição da Secretaria de Educação, e não da escola. "Temos déficit de professores. Os alunos só não estão sem aulas porque vieram alguns temporários e estagiários, e porque a maioria não aderiu à greve", destacou a diretora Divanilza.
Cledna Dias, professora de Ciências, disse que outra triste realidade da rede pública é o desvio idade-série. "Tenho uma aluna, no 5º ano, que tem 14 anos de idade e que engravidou. Ela deixou de vir à escola porque ficou com vergonha. Entramos em consenso e percebemos que não poderíamos entrar em greve por medo da fuga dos alunos. Temos muito poucos e não podemos perdê-los". Rafael Anderson, professor voluntário de xadrez na Escola Raimundo Soares, também não perde o ritmo de ensino, apesar da falta de estrutura para suas aulas, dadas no refeitório. "Alguns estão bem adiantados. Não a nível de competição, mas aos poucos estamos tentando chegar lá".
ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO
GESTÃO
Escolas estaduais
Quase sem planejamento, sem clareza de metas e resultados. Foco massificado
Escolas particulares
Planejamento e monitoramento de resultados. Foco na escola
CUSTO ALUNO
Escolas estaduais
Não há clareza. Não há orçamento nem política de investimento por escola
Escolas particulares
Em geral é feita, com medidas cabíveis para aqueles que não respondem positivamente
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
Escolas estaduais
Pouca avaliação de desempenho dos profissionais
Escolas particulares
Definido valor da anuidade escolar e o orçamento, tendo em vista os investimentos necessários
CONTRATAÇÕES
Escolas estaduais
Os concursos públicos são massificados. As contratações são aleatórias, sem possibilidade de avaliar a prática do profissional
Escolas particulares
Profissionais selecionados de acordo com o perfil que a escola necessita. Seleção envolve prática
FAMÍLIA
Escolas estaduais
Em geral há apatia, acomodação das famílias dos alunos
Escolas particulares
Famílias cobram resultados, qualidade dos serviços
INFRAESTRUTURA
Escolas estaduais
Falta de professores e infraestrutura adequada. Tecnologia obsoleta
Escolas particulares
Pouco risco de faltar professores. Infraestrutura é objeto de atenções permanentes, inclusive modernização tecnológica
DIAS LETIVOS
Escolas estaduais
200 dias letivos, quase sempre com um percentual comprometido
Escolas particulares
Não há greves. Os 200 dias letivos são cumpridos
http://www.diariodenatal.com.br/2011/06/19/cidades1_3.php
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